Chalé das caçadoras de Ártemis

Suas portas eram grandes entre abóbadas de pedra, era como um palácio com seu gramado envolto e entrada frontal única. O vento sempre soprava na mesma direção, e as nuvens carregadas sobre aquela região sumiam, soava alvos e constantes de estrelas cadentes em forma de melodia, pois lá para sempre era noite. Podia-se confundir com o palácio do Drácula, castelo do terror e coisas bem mais absurdas. Mas a arvore morta e seca como as almas que ali viviam, indicava que a fonte ao centro acentuava a entrada do chalé das caçadoras.
O chalé é feito de uma prata que parece ser tão pura quando a alma da deusa virgem, da caça e da serena luz. Ártemis é a mais pura e casta das deusas e, como tal, foi ao longo dos tempos uma fonte inesgotável da inspiração dos artistas, o que levou o chalé das caçadoras a ser um acervo de pinturas e ruínas imitando seus templos espalhados pelo mundo.
Ao entrar, a primeira coisa que se via eram milhares de retratos de todas as caçadoras, todos pintados a mão e com molduras de ouro maciço. Uma televisão antiga e uma poltrona de dois lugares com brumas esculpidas em seu tecido. Uma meia lua cortava a sala, ou ao menos seu desenho. Uma escadaria enorme se abria como a calda do vestido de uma noiva despejando-se sobre ambos os andares, seu corrimão gasto e seu tapete prata selvagem carregavam as pessoas do primeiro grande salão ao segundo.
No segundo andar, uma estátua da senhora das caçadas estava ao centro, e todas as camas em círculos a volta da imagem. O chão era xadrez de preto com branco, e nas pedras mais claras eram retratadas as caçadas e feitos mais nobres das caçadoras, assim como nas mais escuras, haviam os feitos da deusa. O teto era apenas uma imitação do céu, que se movia com sua lua que também mudava de faze e com a mais bela caligrafia se tornava uma mensagem para cada semi-deusa, confortando-a e a tornando menos sozinha:
-Pequenas crianças- dizia a caligrafia em prata - ou nem tão pequenas assim. Deem-me um orgulho e escolham seus destinos, asfódelos ou elísios, já sabem para onde querem ir. Façam bom proveito de tudo que lhes ofereço, lembrem-se de que eu as amo, e também de que as protejo, porém não posso protege-las dos destinos que constroem a si mesmas!!!

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